sábado, 6 de outubro de 2007

Rappers não são Deuses.

Pra quem não sabe dia 24 de setembro foi exibida uma entrevista ao vivo do rapper Mano Brown dos racionais mc’s. A entrevista foi ao ar no programa roda vida da TV cultura, e que passa também na TV educativa, canais esses que por sinal eu assisto e admiro muito, por serem no meu modo de ver uma mídia independente e imparcial. A entrevista durou pouco mais de duas horas e na minha concepção foi boa, mas poderia ter sido melhor, mas não por causa do Brown, e sim por causa dos jornalistas, que pareciam estar com medo da figura ali presente no centro da roda, com exceção do escritor Paulo Lins que é favela também e sempre teve o meu respeito e admiração. Já o resto deixou a desejar, faltou um pouco de pimenta nas perguntas, e com isso o Brown apenas respondeu ao jeito dele o que lhe fora perguntado. Pra mim a entrevista teve dois momentos marcantes e muito interessantes. Vamos a eles. O primeiro momento foi quando um jornalista perguntou ao Brown o que ele achava do traficante, aí ele já foi retrucando falando que não gosta do termo traficante e que prefere chamá-los de comerciantes, pois eles comercializam um produto assim como tudo mundo. Logo em seguida ele foi interrompido novamente pelo jornalista que alegava que traficante é traficante mesmo, que trafica droga e não pode ser chamado de comerciante. A partir daí o Brown soltou as seguintes pérolas: “Primeiramente pra se falar de drogas teríamos que ter um médico aqui pra saber o que é que faz mais mal.” "E o que é pior, uma garrafa de 51 ou um cigarro de maconha?" "Toma 4 garrafas de cerveja pra você vê se não vira um super –herói e não bate o carro na marginal.” "O dono da AMBEV e da 51 não vão preso e os filhos deles não vão ser chamados de filhos de traficante." "O que eu gostaria é que todo mundo pudesse decidir e perceber as coisas sem ter que usar drogas. Mas é fácil condenar né, você é repórter , ta ai bem, trabalhando, formador de opinião, mas ninguém sabe o amanhã, amanhã você pode estar lá no beco dos tristes." Outro momento marcante pra mim foi quando o Brown começou a elogiar Cuba e um outro jornalista veio logo retrucando falando que Cuba tinha um ditador a 45 anos no poder e que hoje em dia não era exemplo de nada, e sim de fracasso. E isso obrigou o Brown a soltar a seguinte frase: “Cuba valorizou o homem, médicos, atletas; e o mundo valorizou a máquina. Um dia Cuba ira acabar como modelo de fracasso, mas não é, pois com o embargo e todo o mundo boicotando fica fácil ser tachado de país fracassado.” Mas a principal característica da entrevista foi a humanização do mito ali presente, e isso foi muito bom para algumas pessoas verem que ninguém é melhor do que ninguém. Na entrevista vimos um mano Brown sorridente e até bem humorado, e isso foi muito bom, porque tem uma galera do rap aí que ta chegando agora, e até uns da antiga mesmo que acham que ser rapper é falar mal de tudo e fazer cara de mau. E não é bem por aí, é como o próprio Brown disse em um trecho da entrevista: “O rap nacional não é igual o rap americano que fantasia as coisas, aqui você tem que falar o que você vive ou que viveu, porque se não depois você é cobrado na rua, por isso você não pode inventar nada, falar do que não sabe”. E nesse ponto eu concordo com ele, até porque quando as coisas são feitas com naturalidade e sinceridade elas saem muito melhor. Lógico que em alguns casos eu não concordei com o que o Brown disse, mas nem por isso eu deixarei de admirá-lo ou respeitá-lo, e é justamente aí que eu queria chegar e explicar porque digo que rappers não são deuses. Algumas pessoas quando curtem muito algum artista, por exemplo, costumam por a pessoa idolatrada num altar e essa pessoa pra ela se torna intocável e perfeita demais. Na visão do fã fanático o ídolo não erra, não tem defeitos e geralmente o fã foge um pouco de sua personalidade para ser igual ao ídolo, e é justamente isso que é ruim. Eu mesmo tenho vários ídolos, várias pessoas que admiro, mas nem por isso quero ser igual a eles ou viver a vida que eles viveram, eu quero ser eu, ter a minha vida, meus pensamentos e minha ideologia, e as pessoas que não tem personalidade costumam pegar a personalidade de alguém que ela gosta muito, e Deus deu o dom da vida pra cada um ter a sua. Tem algumas pessoas que acham que Mano Brown é rei, é Deus, e caga cheiroso, e quando uma entrevista é feita e tira um pouco desse misticismo, tira um pouco essa imagem de pessoa intocável e durona isso é muito bom. Digo bom pra pessoa que tem a idolatria em excesso, pois só assim ela vê que não é só ela que tem problemas, defeitos e momentos tristes, ídolo também chora, até Jesus chorou. E quando eu digo idolatria em excesso eu me refiro a qualquer artista, seja ele mano Brown, Eduardo, mano reco, Douglas, Aliado G, GOG, Bill, Tupac ou até mesmo fora do rap, ou até mesmo fora da música. É preciso se ter o discernimento das coisas e entender que ninguém é perfeito e ninguém vai salvar o mundo sozinho. Cada um tem o direito de pensar o que quiser, e se algumas pessoas mudam alguns pensamentos com o tempo a culpa é da vida, e isso é normal também, ninguém vai ficar dando murro em ponta de fica até a morte, é preciso saber respeitar tudo isso e entender também, até porque hoje o mundo está de um jeito, amanhã pode estar de outro e o seu rapper preferido pode mudar também, e você pode gostar disso ou não, e é por isso que não se pode ter nenhum ser humano no cargo de Deus, pois todos somos falhos e não merecemos esse rótulo. Por isso eu disse e digo que rappers não são deuses.